Conflitos de Interesse nos Investimentos

Ao entender as complexidades dos conflitos de interesse, torna-se mais simples reconhecer organizações e profissionais que buscam estabelecer relações benéficas com seus clientes.


Conflitos de interesse no mundo dos investimentos

Investidores não têm alternativa senão se envolver com o cenário financeiro. No entanto, é lamentável constatar que muitos investidores não recebem a orientação adequada para suas negociações, o que resulta em oportunidades perdidas para maximizar seus ganhos. Adquirir um entendimento mais profundo da mecânica por trás do setor de investimentos é crucial para aumentar lucros e, sobretudo, reduzir despesas.

O dilema reside no fato de que o que favorece as instituições nem sempre é vantajoso para os investidores, e vice-versa. Três atividades principais se destacam: negociação, banca de investimento e bancos comerciais. No papel de negociadores, os agentes do mercado obtêm comissões ao conectar compradores e vendedores. Bancos de investimento coordenam aquisições e alienações de empresas por terceiros, subscrevem novos títulos e fornecem conselhos financeiros. Já os bancos comerciais têm como foco prover recursos para financiar operações comerciais, industriais, de serviços, pessoais e de terceiros em curto e médio prazo.

As instituições financeiras desempenham um papel crucial na economia, atraindo investimentos para empresas em expansão e oferecendo liquidez aos mercados. No entanto, não é difícil detectar situações onde conflitos de interesse e busca por lucros imediatos se sobrepõem. Não é necessário condenar os agentes do mercado por isso, desde que os investidores estejam conscientes e abordem suas negociações com ceticismo e prudência.

Principais dilemas

Um dos principais dilemas reside na forma tradicional de remuneração, baseada em taxas e comissões. As corretagens são cobradas a cada negociação, independentemente do resultado para o investidor. As tarifas associadas a serviços bancários de investimento e subscrições também são aplicadas antecipadamente, muito antes do sucesso ou insucesso da transação ficar claro.

De fato, não há problema algum em oferecer um serviço mediante pagamento. Médicos, advogados, contadores e outros profissionais são compensados dessa maneira, sem depender do resultado final de seus serviços. O ponto aqui é que os investidores precisam entender as motivações das partes com as quais negociam; as taxas e comissões frequentemente impulsionam transações excessivas que não necessariamente são lucrativas.

É frequente observar que, embora muitas vezes seja mais vantajoso para os investidores possuir títulos do Tesouro ou ETFs (de custo mais baixo), corretores têm incentivo financeiro para promover produtos com comissões elevadas.

Esses corretores também são inclinados a realizar negociações excessivas de curto prazo e favorecer subscrições em detrimento de transações no mercado secundário, visto que transações mais frequentes e com tarifas mais altas são mais vantajosas para eles.

Fundos de ações

Um caso peculiar é o dos fundos de ações de único ativo. Você pode investir diretamente em uma ação pagando apenas a taxa de corretagem (algumas corretoras isentam essa taxa), ou então obter exposição à mesma ação investindo em um fundo que possui apenas esse ativo na carteira, mas cobra uma taxa administrativa do investidor (muitas vezes superior à de fundos ativamente geridos, que pelo menos demandam a dedicação de seus gestores, o que justifica em parte o custo). Parece óbvio que a primeira opção é mais vantajosa, mas ao vermos que bilhões de recursos ainda estão alocados em fundos de único ativo, fica claro que muitos investidores ainda não compreenderam essa dinâmica, uma vez que as empresas não os obrigam a adquirir esses produtos.

Empresas ou corretores mais perspicazes podem alertar seus clientes sobre essa desvantagem, orientando-os a migrar para exposições mais sensatas, não necessariamente por altruísmo, mas certamente para garantir a fidelidade do cliente, evitando futuras decepções ao se deparar com essa armadilha e, por conseguinte, preservando o relacionamento.

Ao atuarem como banqueiros de investimento e corretores ao mesmo tempo, as empresas criam seus próprios produtos para comercialização. A subscrição de ações ou títulos gera altas taxas para um banco de investimento, que são compartilhadas com os corretores que vendem os títulos subscritos aos clientes. As comissões mais substanciais provenientes de novas subscrições incentivam os corretores a promover esses produtos junto aos clientes.

Em contrapartida, as comissões obtidas pelos corretores em transações no mercado secundário, que envolvem a revenda de títulos entre investidores, são consideravelmente menores.

Armadilha de mercado

Em períodos de alta do mercado de ações, os investidores devem ser especialmente cautelosos; é comum haver um número significativamente maior de subscrições em mercados otimistas do que em mercados pessimistas. De forma similar, os corretores conduzem mais negociações e lidam com clientes mais satisfeitos durante bull markets. Mesmo os títulos mantidos em estoque para facilitar a negociação tendem a valorizar-se em mercados em alta. Quando um analista ou corretor expressa otimismo, os investidores devem encarar essa visão com reserva.

Inovações no mercado financeiro tendem a ser benéficas para as instituições, mas prejudiciais para os clientes. Novos produtos surgem constantemente. Às vezes, essas ofertas resolvem desafios financeiros das emissoras e atendem às necessidades dos investidores. Porém, frequentemente servem apenas aos interesses da indústria, ou seja, à geração de taxas e comissões. Os intermediários financeiros, banqueiros de investimento e investidores institucionais são os que mais se beneficiam das inovações nos mercados financeiros, ganhando comissões e taxas sem assumir riscos.

Para que isso aconteça, tanto compradores quanto vendedores devem acreditar que terão vantagens a curto prazo; caso contrário, a inovação não se concretiza. Contudo, as implicações a longo prazo dessas in

ovações muitas vezes não são devidamente avaliadas.

O mercado financeiro pode ser desafiador para os investidores. Não há alternativa a não ser se envolver, mas a vigilância constante é essencial. Empresas geralmente buscam maximizar seus próprios interesses e frequentemente têm visão de curto prazo. Essa realidade deve ser reconhecida, aceita e abordada. Há diversos outros conflitos que não foram mencionados, mas o crucial é desenvolver uma mentalidade crítica. Ao negociar com essas advertências em mente, é possível prosperar.

O tom incisivo desta mensagem serve apenas para enfatizar aos investidores a importância de obter um conhecimento mínimo sobre as dinâmicas do mercado e os incentivos que influenciam seus participantes.

Compreendendo os conflitos, fica mais fácil também identificar as instituições e profissionais que buscam estabelecer relações saudáveis e duradouras com seus clientes.

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